Brincadeiras de infância é um relato de memória afetiva da vida do operário cultural Denissena Fóssil, registrado através da comunicação visual contemporânea, virtual e criativa, que reflete em cada visitante a própria infância e a criança que ainda vive em cada em nós.
Os desenhos retratam as brincadeiras que marcaram as últimas décadas, quando os momentos dedicados a brincar representaram a conexão com a ludicidade e a convivência social. Essas crianças, agora, maduras, marcaram encontros com os amigos no quintal, na praça, num terreno baldio, na porta da casa, voltando assim ao tempo com cheiro e sabor de meninice que carregamos conosco.
A exposição desperta, também no adulto a importância de criarem possibilidades de construções internas favoráveis ao desenvolvimento da criatividade tão comum às crianças quando brincam.
Carmen Azevedo
Revisitando décadas passadas do brincar popular fora da "algema" tecnológica Revisitando à minha infância.
Foi assim que me vi desde o primeiro momento em que comecei a acompanhar as postagens no instagram do artista-educador Denissena ou, como o mesmo gosta de ser chamado, "Operário cultural." Suas postagens do "fura pé", do "carrinho" guiador, do "carrinho" de pneu de automóvel, da arraia, da patinete, do jogo de "fura pé", do "carrinho" de garrafa de Q'boa, do "pé" de lata, do jogo com bolas de gudes, seja com triângulo ou com buraquinhos feitos no chão, fizeram meu coração acelerar e meus olhos lacrimejarem. Em plena crise sanitária mundial, de quarentena em minha casa, revisitava a história popular de como crianças e jovens das décadas de 70, 80, e do final de 90 brincavam. Com a ajuda tecnológica artística utilizada pelo criador das postagens, eu estava conseguindo ressignificar o momento pandêmico e político brasileiro, ao mesmo tempo em que relembrava da minha infância e da minha juventude em Salvador nas décadas acima especificadas. A exposição dos brinquedos populares em telas virtuais me remetia a pensar mais sobre o poder tecnológico. Como esse poder pode "algemar" as nossas mãos, atrofiar as nossas mentes, nos tirando o poder da criatividade e, ao mesmo tempo, servir como caminho virtual de comunicação em um momento tão delicado como o que estamos vivendo! No século XX, não era nenhuma surpresa se observar na frente das casas ou pelas ruas das periferias, das favelas, encontros de crianças e de jovens jogando os jogos populares projetados virtualmente por inciativa do "Operário cultural." Hoje, nas ruas das periferias e das favelas, o lúdico do brincar vem sendo substituído pela violência, pela morte acometida por tiros advindos de vários "brinquedos" chamados armas de fogos - envolvendo o tráfico de drogas e a polícia com a ideologia de combate à violência. Por final, eu fiquei e estou pensando: "Como posso ajudar os adolescentes, os jovens manterem só uma das mãos "algemada" com a tecnologia e a outra livre para construir e deixar um legado de brincadeiras populares para outras gerações?" "Como pode agir os poderes públicos na garantia de segurança nas favelas, nas periferias, para que os adolescentes e os jovens possam usar sua mão livre da "algema" na construção desse legado, protegido da violência e da morte?" "E qual pode ser a contribuição familiar, da escola e da sociedade na garantia dessa proteção?"
Moisés Oliveira
Professor de história e de filosofia de escola pública da Bahia; Especialização em Metodologia, Pesquisa e Extensão em Educação; Mestre e doutorando do Programa de Pós-Educação em Educação e Contemporaneidade da Universidade do estado da Bahia - UNEB
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